sábado, 11 de abril de 2015

Origem e evolução do violino - 2ª parte


Músicos persas da era Qajar, pintura de Kamalolmolk

Em 640/642 os árabes dizimaram os exércitos persas, estabelecendo uma hierarquia militar muçulmana. Farabi (912-950 da era cristã) em seu livro, constata a existência de um instrumento de arco com os árabes, com certeza proveniente da Pérsia.
Presume-se que este instrumento citado por Farabi é o kemangeh persa, desenvolvido pelos árabes mesmo de instrumentos construídos pelos Indus de Machas. É espantoso o número de instrumentos construídos pelos Indus, com as formas mais bizarras e os mais belos adornos e com incrustrações, algumas porém de gosto duvidoso.
Alguns kemangeh, que são espécies de violas, são usados como repouso sobre os joelhos, lembrando a posição do violoncello (Fétis, Livro II, página 135).
Quanto às cordas, eram construídas com 60 fios de crina de cavalo, enrolados com fios de algodão. A sonoridade era pobre, ainda que estes instrumentos não possuíam caixa harmônica como as usadas atualmente. A caixa harmônica destes instrumentos era construída com uma metade de noz de côco com furos, recoberta pelo que lhe servia de tampo. Sua sonoridade rouca era apreciada pelas populações asiáticas. Já nesse tempo usava-se como acompanhamento dos poetas, quando mesmo nas ruas declamavam suas poesias. Esse hábito é sobretudo de origem árabe.
Os kemangeh evoluíram, alcançando o formato de violas, com caixa harmônica de madeira e tampo de pinho.
Outro kemangeh digno de nota é o pequeno com formato das antigas "pouchettes" dos séculos XVII e XVIII. Essas "pouchettes" eram instrumentos de corda e arco de que se serviam os mestres de dança, para tocar a música com a qual ensinavam os variados passos dos minuetos e gavotas aos nobres da corte. Eram de fácil transporte, pois ao término das aulas enfiavam-nas nos largos bolsos dos casacões então em moda e dirigiam-se à casa de outro aluno. A afinação desse kemangeh é curiosa. Possuía oito cordas, quatro de tripa e quatro de aço. as de tripa ficavam sobre as de aço, lembrando as das violas d'amores, que apresentavam a mesma peculiaridade, embora com afinação e número de cordas diferentes. A afinação era a seguinte:

Afinação do kemangeh


O rebab, também usado pelos árabes, é igualmente originário da Pérsia. è provavelmente o responsável pelo nome "rebeca", termo depreciativo dado ao violino. O rebab tinha três cordas afinadas em quintas, única analogia com o atual violino.


Afinação do rebab
Quanto à forma, era inteiramente diferente.Não possuía ilhargas e o fundo era ventrudo. O tampo possuía duas aberturas semi circulares, sendo que o braço formava corpo com a caixa harmônica, dando ao instrumento a aparência de uma pera.
Não somente as "rebecas", mas também as "gigas" tinham essa forma. A sonoridade era pobre, inexpressiva, sem vida.
Esses instrumentos e ainda a "viéle" e a "trombeta marinha" pontificaram durante toda a Idade Mádia.
O rebec permaneceu até o século XVII, desaparecendo posteriormente de tal maneira, que não se encontra um só exemplar, a não ser uma cópia feita por Vuillaume e que está no Conservatório de Paris, feita por indicação de pinturas e esculturas da época.
A viéle, movida por manivela é o ancestral do realejo. Havia também a viéle com arco e que foi, segundo Vidal, a origem das violas.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Origem e evolução do violino - 1ª parte




São muito remotas a origens do violino, não sendo possível estabelecer com exatidão de qual instrumento da antiguidade originou-se, se provém da Europa ou do Oriente. As opinões dos autores divergem neste particular.
François-Joseph Fétis em sua "História Geral da Música" defende a origem oriental do mesmo. Outros historiadores como Vidal, Tolbeck e Hart igualmente se dedicaram a este assunto, estudando não somente a evolução das antigas violas, que certamente deram origem ao atual quarteto de cordas, mas também instrumentos mais antigos como o cruth, rebecs, gigas etc.
Entre os instrumentos antigos que se podem considerar como antecessores do violino podem ser citados o ravanastron da Índia e a lira da Grécia.
O violino, tal como conhecemos é produto de lenta evolução que se processou através de lenta evolução que se processou através de séculos até atingir a perfeição, fato verificado na segunda metade do século XVI na Itália, com as famílias de Amati, Stradivarius e Guarnerius, representando a escola de Cremona e a escola de Brescia, com Gasparo de Saló como principal representante.
Os instrumentos primitivos possuíam cordas que para soarem eram puxados com os dedos ou palhetas de madeira ou marfim e depois relaxadas, produzindo pizzicatos com auxílio da mão direita. A mão esquerda, muito menos trabalhosa e mais fácil, era dada a tarefa de delimitar as cordas. Com o aparecimento do arco manteve-se  tal disposição, sendo esta a principal razão do empunhamento do arco com a mão direita e do violino com a mão esquerda.
Um dos mais antigos instrumentos de corda é a lira grega. Estas liras possuíam várias formas. Tolbeck em seu livro "L'art du luthier" mostra uma lira de pastores, que consistia numa carapaça de tartaruga com dois braços para cima, ligados por uma trave onde se firmavam as cordas presas à carapaça. George Hart se refere a esse instrumento e cita uma lira de uma só corda que dá o nome de "chely" ou seja "tartaruga". Conta a lenda:

"Mal saiu do seio materno, não ficou envolto nos sagrados cueiros; pelo contrário, imediatamente ultrapassou o limiar do antro sombrio. Encontrou uma tartaruga e dela se apoderou. Estava ela na estrada da gruta, arrastando-se devagar e comendo as flores do campo. Ao vê-la o filho de Júpiter alegra-se; pega-a com ambas as mãos, e volta para a sua morada, com o interessante amigo. Esvazia a escama com o cinzel de brilhante aço e arranca a vida à tartaruga. Em seguida, corta alguns caniços, na medida certa, e com eles fura o costado da tartaruga de escama de pedra; em volta estende com habilidade uma pele de boi, adapta um cabo, no qual, nos dois lados, mergulha cavilhas; em seguida, acrescenta sete cordas harmoniosas de tripa de ovelha"."Terminando o trabalho, ergue o delicioso instrumento, bate-o com cadência empregando o arco, e a sua mão produz retumbante som. Então o deus canta improvisando harmoniosos versos, e assim como os jovens nos festins se entregam à alegria, ele também conta as entrevistas com Júpiter e a formosa Maia, sua mãe, celebra o seu nascimento ilustre, canta as companheiras da ninfa, as suas ricas moradas, os tripés e os suntuosos tanques que se encontram na gruta".
                                                                                                                        (Hino homérico)



Observe-se que os alemães  davam o nome de "Chebys" às suas violas. Parece haver uma analogia entre os instrumentos de arco e a antiga lira.
Hart é apologista da origem oriental do violino, ao contrário de Fétis, Vidal e Tolbeck, que preferem considerá-lo como oriundo do oriente. William Chappell e Roger North, citados por Hart, também negam a origem asiática do violino.
No entanto, parece-nos mais acertada a teoria de Fétis, pois foi do oriente que vieram todos os conhecimentos científicos, até as artes.
Sendo o violino um instrumento de corda e arco, só nos interessa sua evolução com o advento do arco. São inúmeros os instrumentos de corda produzidos pela antiga luteria indiana.
Na China antiga já se conhecia um instrumento manejado por arco que parece ter sido importado da Índia.
Fétis afirma que nem gregos, e tão pouco assírios e egípcios não conheciam o arco, tendo sido a Índia o país onde apareceram os primeiros arcos rudimentares.
A notícia mais antiga que se tem de um instrumento de cordas data de 5000 A.C, é o Ravanastron, instrumento primitivo que nem de longe lembra os atuais.
Ravana, rei do Ceilão é dado como seu inventor. É ainda Fétis que cita outro instrumento, o Ormeti, semelhante ao primeiro, porém aperfeiçoado, sobretudo no que diz respeito ao arco. Ainda há o "Chikara", com arco de madras.
A introdução dos instrumentos de corda e arco no ocidente, deve ter sido feita através das invasões árabes na Península Ibérica. A história de todos os povos e das artes está intimamente ligada às migrações. Viajantes como Marco Polo e guerras de conquista, como as de Alexandre "O Grande da Macedônia". William Chappell cita Alexandre e procura demonstrar a origem teutônica dos instrumentos de corda e arco, dando como razão o fato de Alexandre não haver levado o arco para a Grécia. Porém estas observações são meras hipóteses, pois sabemos que o grande guerreiro jamais voltou à Grécia, tendo morrido em Lusa.
Todavia, uma coisa é certa; o fanatismo religioso das cruzadas, levando o ocidente a invadir o oriente, trouxe, ao lado de muita miséria, muitos conhecimentos e provavelmente novos instrumentos musicais, desconhecidos na Europa.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A Didática Violinistica




Claire Bernard (à direita) com Dominique Hoppenot, no "Concert à Asnières" em 1976.

Dominique Hoppenot, professora de violino há más de vinte anos chegou a conclusões bastante evidentes, entretanto, pouco comentadas em relação ao estudo e à execução técnica desse instrumento. 
Os alunos, assim como os seres humanos de um modo geral, possuem padrões de comportamento que se repetem. Infelizmente, a maioria desses padrões não se enquadram à verdadeira essência da arte musical. Dificilmente estuda-se buscando a verdadeira essência desse instrumento. Razões externas geralmente norteiam a procura pelo violino deixando de lado fatores importantes como a arte e as possibilidades técnicas. A verdadeira razão de seu estudo. Por isso poucos sobressaem no campo artístico. Não em relação à mídia mas sim como verdadeiro músico. 
Antes de entender o instrumento deve-se compreender o próprio corpo. Seus mecanismos de produção de força contrapesos, pronação, supinação, relaxamento e respiração. Caso esse entendimento não ocorra a técnica violinística fica comprometida. O violino deve ser visto como extensão do próprio corpo e ser tratado da forma mais natural possível. 
Quando não há paz no ambiente de estudo, não se determina um tempo diário e uma metodologia para tal, estuda-se cansado e desconcentrado não obtemos resultado. 
O professor, por sua vez, não está isento de culpa por empregar metodologias ineficientes e ultrapassadas. 
A técnica do controle mental é a mais importante para se aprender a ser artista em um instrumento. O desbloqueio e a preparação adequada da mente é fato primor.. A mente harmoniza o corpo, prepara-o para o novo evento. Cada gesto passa a ter uma razão de ser, a concentração aumenta e o relaxamento muscular se faz notar. O medo diminui. Dia a dia travamos um embate com e nosso pior inimigo: a mente. Se não passarmos a tratá-la como amiga, nada se resolverá_Estudamos para nosso prazer, não para um concurso. Quando o prazer acaba cessa a razão do estudo. 
Vale considerar também a mudança de níveis de estudo. As dificuldades técnicas são representadas, muitas vezes, em exercícios posteriores. Quando não se muda de nível não se progride. Estudar da mesma forma as mesmas coisas durante anos é ineficaz. Em um estágio profissional a técnica é relembrada na própria música, o que deveria ser feito já no inicio do aprendizado violinístico, poupando o alumo de sacrificar-se estudando métodos que não se enquadram mais nos dias atuais, apesar de serem valiosíssimos como pesquisa histórica e de terem cumprido um excelente papel em seu tempo. 
Não se faz um recital de escala e arpejo. Não se dá um concerto de mudança de posição. Não se executa um duo em corda solta e muito menos um quarteto só na quinta posição. 
O que Dominique propõe é que façamos música Sem burocracia sem desculpas e sem desvirtuar-se do caminho da verdadeira arte.